11 novembro, 2016

Canção na plenitude .



Canção na plenitude

"Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a peletranslúcida há muito se manchou.

Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardosbons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudoo que perdi: dou-te os meus ganhos.

A maturidade que consegue rirquando em outros tempos choraria,
busca te agradarquando antigamente quereria apenas ser amada.

Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor,
 com mais paciência e não menos ardor, a entender-te

se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.

Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam, 
cujas correntes ocultas não levam destroços mas 
o sonho interminável das sereias."

Lya Luft 

 Texto extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim -
 São Paulo, 1997, pág. 151.

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